quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Contaminação Aquífera

“Estava lanchando uma coca-cola lata com um biscoito integral, em uma das lanchonetes da universidade. Após finalizar o lanche, permaneci ali por alguns instantes, conversando com os amigos da turma sobre a bioquímica, e então voltamos para a sala de aula. Percebi que tinha esquecido minha garrafa de água, e voltei à lanchonete, deparando-me com uma moça que estava a limpando a mesa, separando os resíduos em metal, plástico, papel e restos de comida. A mesma me entregou a garrafa, agradeci e retornei a sala, porém refletindo sobre o destino final daquele lixo e qual a sua real importância, principalmente para o meio ambiente. Será que há bioquímica no lixo?”
Para entender sobre a bioquímica do lixo, é indispensável destacar o que é bioquímica e o que é lixo, e como ambas se correlacionam:
Segundo Lehninger, “Bioquímica não é nada menos do que a “Química da Vida” e, portanto, a vida pode ser investigada, analisada e compreendida”. Esta definição permite definir bioquímica como todo o processo químico que interfere, interage ou colabora com a vida direto ou indiretamente. Por sua vez, do latim lix, a palavra lixo significa "cinzas". De acordo com o Dicionário Aurélio, lixo é "tudo o que não presta e se joga fora; coisa ou coisas inúteis, velhas, sem valor; resíduos que resultam de atividades domésticas, industriais, comerciais", mas este conceito apresenta um valor subjetivo quando se verifica a atual cojuntura socioeconômica, em que muitas pessoas se alimentam e sobrevivem do lixo, utilizando-o de alguma forma, sendo assim, não se trata de lixo para estas pessoas, mas o ponto de início de uma cadeia/ciclo.
Aterro Sanitário Legalizado, conforme Política Nacional de
Resíduos Sólidos, Lei 12.305 de 2 de Agosto de 2010.
Segundo a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a proteção da saúde pública e da qualidade ambiental, a não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, bem como disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, são objetivos almejados, porém, tais práticas tornam-se quase utopias, principalmente quando a coleta do lixo ocorre de maneira indiscriminada, aleatória, sem o menor preparo e cuidado, não deixando de salientar, a disposição final, que na maioria das vezes, ocorre em locais com condições inadequadas, sem um preparo do solo, próximo de regiões aquíferas, com vegetação nativa em crescimento, dentre outras.
Lixão Clandestino do Projeto Manuzelão da UFMG
Responsável por denúncias a lixões clandestinos
Estudos acerca da qualidade do solo e da água, próximo de locais de aterros sanitários, como realizado no Município de Alagoinhas (Bahia), apontam a existência de uma severa contaminação das águas subterrâneas e superficiais. Verificaram-se alterações nas demandas químicas e bioquímica de oxigênio (DQO e DBO), dos nutrientes nitrogênio e fósforo, no total de sólidos dissolvidos e suspensos, nos totais de cátions e ânions, além da contaminação pelo metal cromo III, apresentando fortes indícios de contaminação com lixiviados de lixo (lixiviados são efluentes líquidos resultantes da água contida nos resíduos, da chuva ou de infiltrações).
As concentrações de sulfato e de cloreto estavam normais em alguns pontos, mas em outros estavam acima do normal. O sulfato em excesso, possui efeitos laxativos, e em situação anaeróbicas, pode ser reduzido a sulfeto, que em excesso provoca irritação nos olhos e no aparelho respiratório, dores de cabeça e cegueira temporária. Já o cloreto está associado a alterações na pressão osmótica das células e ao padrão de potabilidade da água, pelo seu caráter “salgado”.
Os resultados de DBO e DQO associados a alterações na concentração de nutrientes do fósforo e nitrogênio demonstram uma alta depleção do oxigênio dissolvido, implicando um processo de eutrofização que quebra a estabilidade (homeostase) do equilíbrio entre a produção e o consumo e decomposição da matéria orgânica, assim, o ecossistema produz mais do que sua capacidade de consumir, resultando o aparecimento de algas filoplantctônicas e perda da biodiversidade.
Alterações na concentração do metal cromo, provenientes do despejo de resíduos industriais na bacia aquífera, principalmente pelo curtume de couro, interferem em processos enzimáticos, e na sua pouca mobilidade no organismo vivo, pelo pequeno tamanho e das cargas elétricas duplas e triplas. A baixa mobilidade ocasiona um acúmulo, que causa grandes modificações no metabolismo, levando até a morte. Através das cadeias alimentares, estes elementos podem atingir o ser humano, causando efeitos cumulativos mais devastadores, pelas consequências da contaminação.
Destacadas algumas consequências do processo de contaminação do perímetro aquífero, pela presença de aterros sanitários ou lixões, é imprescindível que exista um controle rigoroso e constante sobre o manuseio do lixo, desde a sua segregação até a disposição final, pois os efeitos são revertidos para o meio ambiente de forma abrupta e na maioria das vezes, o próprio ser humano sente as consequências bioquímicas do acondicionamento inadequado dos seus resíduos.
Não percam as próximas postagens da Bioquímica do Lixo...!

Referências Bibliográficas

NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.

PEREIRA, Patrícia de Andrade; LIMA, Olivar Antônio Lima de. Estrutura elétrica da contaminação hídrica provocada por fluidos provenientes dos depósitos de lixo urbano e de um curtume no município de Alagoinhas, Bahia. Rev. Bras. Geof.,  São Paulo ,  v. 25, n. 1, mar.  2007 .   Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-261X2007000100001&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  01  out.  2014.  

BRASIL. Lei 12.305, de 2 de Agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em 01/10/2014


MACHADO, Nilson José; CASADEI, Silmara Rascalha; Seis razões para diminuir o lixo no mundo; ilustrações Vera Andrade – São Paulo: Escrituras Editora, 2007. (Coleção escritinha).

8 comentários:

  1. Lixo ou Luxo?

    O lixo possui uma denominação relativa, de acordo com quem se depare diante do mesmo. Produzir lixo é descartar o que não mais está para uso, ou ainda, o descarte do que é útil, como reflexo do capitalismo selvagem em que o mundo está inserido.
    É necessário que se diga ainda que a forma como o lixo é descartado, em grande maioria, é reflexo da postura dos governos diante da situação. Em países de terceiro mundo, por exemplo, vê-se com maior frequência os lixões a céu aberto, expondo pessoas e animais aos mais diversos tipos de poluição, inclusive a aquífera (uma vez que o chorume e metais pesados estarão atravessando o solo rumo às reservas de água, lagos e rios).
    É imprescindível, pois, que se trate a questão do lixo como um caso de saúde pública, sobretudo no que se refere à exposição a fatores de risco que podem desencadear uma série de doenças nas comunidades do perímetro, como a leptospirose, o tétano, irritação das mucosas, entre outras.
    A solução para a questão do lixo é justamente o tão velho e conhecido conceito dos 5R's: Repensar, Recusar, Reduzir, Reciclar e Reutilizar. Tendo em vista o controle do consumo desenfreado, e a estimulação estatal para a construção de aterros sanitários (destino mais adequado para o despejo de lixo, com a proteção dos solos e da água, bem como com a utilização do gás metano produzido pelos restos orgânicos).

    REFERÊNCIAS

    NAIME, Roberto. Como funciona um aterro sanitário. Disponível em: http://caroldaemon.blogspot.com.br/2010/06/como-funciona-um-aterro-sanitario.html. Acesso em: 03 de out. 2014.

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  2. O conceito de lixo varia com a sua utilização, podendo, inclusive, ser considerado arte: como mostra o documentário do artista plástico brasileiro Vik Muniz, "Lixo Extraordinário". Quanto aos seus aspectos bioquímicos, é necessária uma atenção no que ser refere a sua armazenagem, já que métodos tradicionais provaram serem inadequados na medida em que poluem não só a superfície onde se encontra, mas também arredores e lençóis freáticos. Pode ainda afetar a bioquímica em cadeia de macro e micro nutrientes, acarretando mudanças as quais são deletérias aos seres humanos. O post é intrigante na medida em que nos faz pensar que esquecido e abandonado "lixo" possui bioquímica e que o que é deixado para trás ainda afeta nossas vidas.

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  3. A produção de lixo cresceu em níveis assustadores nos últimos anos, é claro que precisamos sim rever nossos conceitos sobre o que realmente pode ser considerado lixo e de que forma isso pode contribuir para melhoria na nossa qualidade de vida. Parece que tão preocupante como a “produção de lixo” é também o “tratamento adequado” que devemos dar a certos materiais. Podemos reciclar, reutilizar, reduzir... Mas qual formação nós temos para lidar com essa situação? E o pequeno agricultor que usa arbitrariamente produtos químicos em suas lavouras e se desfaz de forma criminosa dos recipientes desses produtos? Portanto, assim como fez o Flávio em suas palavras no início do texto, é preciso sim refletir sobre o destino do lixo que nós produzimos.

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  4. Muito interessante a sua postagem, nos obriga a refletir sobre o destino dado ao que tomamos como rótulo de descartável, pois o que é lixo ou não, cabe ao nosso julgo, e assim desperdiçamos o que pode ter grande serventia a outros. O lixo pode virar arte, pode se tornar o novo, através da reciclagem de diversos materiais, e também pode ser utilizado na obtenção de energia a partir do gás metano, que é liberado na decomposição do resíduo biológico.
    Então de vem ser feitas algumas perguntas importantes:
    1. De onde vem o lixo?
    Como explanado no texto, lixo é o que julgamos sem serventia, apesar de que na maioria das vezes, nem tudo que vai para o lixo é, por isso foi criada a politica dos 5 R's, que já foi exposta acima pelo comentário do Bruno, de maneira que possamos reduzir o desperdício, que façamos uma seletividade, e pratiquemos a reciclagem.
    2. Pra onde vai o lixo?
    Existe no Brasil uma politica especifica para tratar do destino do lixo produzido, chama-se Politica Nacional dos Resíduos Sólidos, e determina que os estados e municípios se adequem ao local de despejo do lixo, que deve ser em aterros sanitários, para que se evite a contaminação a nível aquífero e também atmosférico, onde o chorume e o gás metano produzido são canalizados, no entanto a maior parte do descarte ainda é pelo método tradicional, em lixões a céu aberto, onde também se observa problemas sociais gravíssimos, pessoas abaixo da linha da miséria, dividido o lixo com urubus, daí podemos concluir que o que pra algumas pessoas é lixo, para elas é ouro.
    3. Como reutilizar o lixo?
    Algumas maneiras eficientes de se aproveitar da degradação do lixo biológico foi aproveitar um gás produzido em excesso nos lixões e desperdiçado para esse fim, além de contaminar o gás atmosférico, pois só pode ser utilizado em aterros sanitários, através da sua canalização, o metano CH4, é um alcano que pode e deve ser utilizado em termoelétricas, como combustível para a obtenção de energia elétrica.

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  5. Muito interessante ter iniciado sua postagem relacionando os conceitos de bioquímica e de lixo, deu uma percepção mais ampla do tema deste blog. O armazenamento do lixo é um grave problema na sociedade atual. Na busca de solucioná-lo, foi instaurada no Brasil a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que determinou que todos os municípios dessem um fim aos lixões a céu aberto e implantassem aterros sanitários. Muitos municípios não conseguiram cumprir os prazos dados, mas mesmo se todos conseguissem, ainda teríamos serias consequências decorrentes do armazenamento do lixo, já que mesmo os aterros sanitários afetam seus arredores. Como mencionado no texto, uma das alterações que ocorrem por causa desses aterros é a contaminação de cromo III, que interfere nos processos enzimáticos. Isso ocorre, pois o mesmo interage com um dos pólos dos aminoácidos presentes na enzima (que é uma proteína), desnaturando-a. Além disso, o chumbo é armazenado nos ossos no lugar do cálcio, provocando sérios problemas para o organismo. Percebe-se, assim, a necessidade de medidas alternativas para o problema do lixo. Aguardo as próximas postagens sobre esse tema!

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  6. Achei muito boa a abordagem usada nessa postagem, pois descatou as principais consequências do destino impróprio dado ao lixo. Nosso país é responsável por uma produção de lixo diária de 240.000 toneladas. O aumento dessa produção deve-se a uma gama de fatores: crescimento do poder aquisitivo, perfil de consumo de determinada população, maior consumo de produtos industrializados, educação ambiental conferida a tais populações, dentre outros. Um grave problema é o fato de que, em sua maior parte, esse material é destinado a lixões. O lixo não tratado constitui uma mazela na organização do saneamento básico no Brasil, pois traz diversas patologias (verminoses, micoses etc) à população além de constrangimentos como mau cheiro, detrimento visual das cidades. Poucas são as prefeituras em nosso país que desenvolvem soluções ecologicamente corretas ou destinam alguma atenção ao problema aqui apresentado.A saída mais usada para a eliminação do lixo doméstico atualmente no Brasil são os aterros sanitários. Porém com o acúmulo desse material nos aterros, ocorre a fermentação da matéria e como consequência desse processo, dois subprodutos surgem: o chorume e o gás metano. Um dos aspectos negativos do metano é que ele participa da formação do efeito estufa, colaborando, desta forma, para o aquecimento global. Além de que se inalado, o metano pode causar asfixia, parada cardíaca, inconsciência e até mesmo danos no sistema nervoso central. Já o chorume pode causar sérios danos ao meio ambiente, pois além da baixa biodegradabilidade, possui metais pesados os quais os organismos são incapazes de eliminar, acumulando-os. Embora muitos metais sejam essenciais para o crescimento dos organismos e para suas reações biológicas, o seu acúmulo em altos níveis é tóxico e causa sérios riscos, tanto para as plantas quanto para os animais, e consequentemente passando esses elementos para os predadores, o que pode danificar os sistemas biológicos e os processos bioquímicos a curto, médio e longo prazo. Logo, é preciso destinar adequadamente esses resíduos, evitando assim sérios riscos à saúde da população e ao meio ambiente, como foi dito no blog. O tema é bem interessante e foi bem trabalhado no post! Aguardo novas postagens.

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  7. É importante prever os impactos ambientais do acúmulo de lixo em uma região. Dessa maneira, reservas de água potável, que tornam-se cada vez menos numerosas, podem ser preservadas. Na construção de um aterro, é necessária a implantação de mantas impermeabilizantes e drenagem do chorume para evitar contaminação. Quando isso não é respeitado, o chorume escorre carregando grande quantidade de matéria orgânica (grande DBO) e metais pesados.

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  8. A temática do lixo se torna cada vez mais procupante. Enquanto lia a sua postagem me recordava do filme de animação Wall-e, já assistiu? Nele há uma crítica sobre o excesso de lixo em nosso planeta e como a vida se tornaria insustentável perante tanto lixo, de forma que os seres humanos tem que se retirar da Terra para dar espaço ao lixo.
    Medidas mais firmes tem que ser tomadas para amenizar essa questão!
    Aguardo novas postagens!

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